14.) Os 144 mil: O Resultado Final do Plano da Salvação

Quando Deus criou nossos primeiros pais, Adão e Eva, Ele colocou neles todas as características necessárias para compor a raça humana. Adão deu a sua nova noiva o nome de “Eva”, que significa “doadora de vida”, porque ela se tornaria a mãe de todos os seres viventes (Gênesis 3: 20). Isso significa que as características herdadas de Adão e Eva passariam a todos os seus descendentes. Tivessem eles permanecido fiéis a Deus, toda a raça humana teria herdado pensamentos justos e um caráter santo.

Quando Deus criou este mundo, tinha um propósito específico em mente. Embora não saibamos como os habitantes de outros mundos diferem de nós, Ellen White nos diz que os seres humanos são uma nova e distinta ordem, com um propósito elevado e santo.

“Todo o Céu tomou profundo e jubiloso interesse na criação do mundo e do homem. Os seres humanos eram uma nova e distinta ordem. Foram criados ‘à imagem de Deus’, e o desígnio do Criador era que povoassem a Terra. Destinavam-se a viver em íntima comunhão com o Céu, recebendo poder da Fonte de todo poder. Sustentados por Deus, deviam viver vida impecável [...]

“Deus criou o homem um ser superior; unicamente ele foi formado à imagem de Deus, e é capaz de participar da natureza divina, de cooperar com seu Criador e executar-Lhe os planos” (Filhos e filhas de Deus, p. 7).

O fato de o mundo ter sido criado depois da queda de Lúcifer e da deserção dos anjos que caíram com ele, indica que havia um propósito importante e especial para esta Terra e seus habitantes no grande plano da salvação. Ellen White abre a cortina e nos oferece esta surpreendente visão:

“Deus possuía conhecimento dos eventos futuros, antes mesmo da criação do mundo. Ele não adaptou Seus propósitos para que estes se amoldassem às circunstâncias, mas permitiu que as coisas se desenvolvessem e produzissem seus resultados. Não agiu para que certas condições surgissem, mas sabia que elas ocorreriam. O plano que se colocaria em ação no caso de se rebelar alguma das elevadas inteligências celestiais – este era o segredo, o mistério oculto desde as eras passadas” (Comentário Bíblico Adventista, vol. 6, p. 1204).

“Deus criou o homem para Sua glória. Era Seu propósito repovoar o Céu com a raça humana para que depois de testada e provada, a família humana pudesse tornar-se leal a Ele. Adão devia ser provado, para ver se seria obediente. Se resistisse à prova, seus pensamentos teriam sido como os pensamentos de Deus, seu caráter teria sido moldado à semelhança do caráter divino” (A Maravilhosa Graça de Deus, p. 348).

“Jesus veio ao nosso mundo para disputar a autoridade de Satanás. Ele veio para restaurar no homem a imagem de Deus, a qual fora desfigurada pelo pecado; veio para elevar o ser humano, enaltecê-lo, prepará-lo para companheirismo com os anjos do céu, para assumir sua posição nas cortes de Deus, a qual Satanás perdeu pela rebelião” (Review & Herald, 8 mai. 1894).

“O Céu triunfará, porque as vagas deixadas pela queda de Satanás e seus anjos serão preenchidas pelos redimidos do Senhor” (Olhando para o Alto, p. 55).

Há muitas coisas que não conseguimos entender sobre esse milagre maravilhoso deste lado do Céu, mas podemos buscar compreender tudo o que Deus tem nos revelado, e assim podermos nos preparar melhor responder ao chamado de Deus para estarmos entre os 144 mil, que são a geração final do povo de Deus na Terra, o resultado final do plano da salvação.

“Devemos olhar para o homem Cristo Jesus, o qual é completo na perfeição da justiça e santidade [...] Ele é o homem exemplar. Sua experiência é a medida da experiência que devemos obter. Seu caráter é nosso modelo [...] Ao olharmos para Ele e meditarmos a Seu respeito, Ele será formado em nós, a esperança da glória.

Procuremos, com todo o poder que Deus nos tem dado, estar entre os cento e quarenta e quatro mil” (Comentário Bíblico Adventista, vol. 7, p. 1083, 1084).

O propósito do plano da salvação é multifacetado: primeiro, Deus precisa mostrar que Sua lei e Seu caráter santos e perfeitos podem ser reproduzidos na humanidade. Quando Satanás se rebelou no Céu, ele desafiou a necessidade da lei de Deus e enganou a terça parte dos anjos. No Jardim do Éden, Adão e Eva foram testados em sua obediência à ordem de Deus, mas eles também se renderam às mentiras de Satanás. Assim, antes que o grande conflito termine, Deus precisa mostrar ao Universo que Ele tem um povo que não só está em conformidade com Sua lei intelectualmente, mas também cooperará com o processo divino de purificação de seu coração, a fim de que todo o vestígio de afinidade com Satanás seja removido.

Com frequência os escritores bíblicos falam da depravação natural do coração humano em contraste com os requisitos do caráter santo de Deus e de Sua santa lei. Davi lamentou depois de seu pecado com Bate-Seba:

“Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu a minha mãe. [...] Esconde a tua face dos meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito reto. Não me lances fora da tua presença, nem retires de mim o teu Santo Espírito. Torna a dar-me a alegria da tua salvação e sustém-me com um espírito voluntário” (Salmo 51:5-12).

Paulo expressou: “Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros” (Romanos 7:21-23).

Jeremias registrou uma imagem precisa sobre a impossibilidade de a natureza decaída produzir justiça: “Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal” (Jeremias 13:23). “O pecado de Judá está escrito com um ponteiro de ferro, com ponta de diamante, gravado na tábua do seu coração e nas pontas dos vossos altares. Como também seus filhos se lembram dos seus altares, e dos seus bosques, junto às árvores frondosas, sobre os altos outeiros” (Jeremias 17:1, 2).

Observem que o pecado está gravado nas tábuas do coração. O paralelo entre a lei de Deus sendo escrita nas tábuas de pedra e o pecado escrito nas tábuas do coração é inevitável e de vital importância. Vejamos a semelhança do texto nestes versículos: “E deu a Moisés (quando acabou de falar com ele no monte Sinai), as duas tábuas do testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus” (Êxodo 31:18). “E virou-se Moisés e desceu do monte com as duas tábuas do testemunho na mão, tábuas escritas de ambos os lados, de um e de outro lado estavam escritas.  E aquelas tábuas eram obra de Deus; esculpidas nas tábuas” (Êxodo 32:15, 16).

Quando Deus criou Adão e Eva, a lei de Deus estava escrita no coração deles. Mas quando escolheram pecar, escolheram para si e para sua descendência um coração dividido e uma inclinação para o pecado, que daria a Satanás acesso para continuar suas tentações e seu poder sobre eles de uma geração a outra.

“Mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo; e andai em todo o caminho que eu vos mandar, para que vos vá bem. Mas não ouviram, nem inclinaram os seus ouvidos, mas andaram nos seus próprios conselhos, no propósito do seu coração malvado; e andaram para trás, e não para diante” (Jeremias 7:23, 24).

“Assim falou o Senhor dos Exércitos, dizendo: Executai juízo verdadeiro, mostrai piedade e misericórdia cada um para com seu irmão [...] nem intente cada um, em seu coração, o mal contra o seu irmão. Eles, porém, não quiseram escutar, e deram-me o ombro rebelde, e ensurdeceram os seus ouvidos, para que não ouvissem. Sim, fizeram os seus corações como pedra de diamante, para que não ouvissem a lei, nem as palavras que o Senhor dos Exércitos enviara pelo seu Espírito por intermédio dos primeiros profetas; daí veio a grande ira do Senhor dos Exércitos. E aconteceu que, assim como ele clamou e eles não ouviram, também eles clamaram, e eu não ouvi, diz o Senhor dos Exércitos” (Zacarias 7:9-13).

É interessante notar que a lei de Deus foi escrita pelo dedo de Deus. Essa mesma frase é usada novamente por Jesus em Lucas 11:17-20: “Todo o reino, dividido contra si mesmo, será assolado; e a casa, dividida contra si mesma, cairá. E, se também Satanás está dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? [...] Mas, se eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente a vós é chegado o reino de Deus”.

O mesmo texto é usado em Mateus 12:28, mas nesta passagem, registra-se que Jesus disse: “Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, logo é chegado a vós o reino de Deus”.

Ao colocarmos todos esses textos juntos, fica claro que o dedo de Deus é o Espírito Santo, que não só escreveu a lei de Deus em tábuas de pedra, mas também pode lançar fora de nossa vida a presença dos espíritos maus e escrever a lei de Deus em nosso coração, se nos rendermos a Ele. Paulo também fala dessa transformação naqueles que se renderam ao poder do Espírito Santo: “Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração” (2 Coríntios 3:3).

“Cristo nada mais anela que redimir do domínio de Satanás Sua herança. Todavia, antes de sermos libertos do poder de Satanás exteriormente, precisamos ser redimidos de seu poder interior” (Parábolas de Jesus, p. 89).

“Chegando-nos a Seu lado e mantendo comunhão com Ele, tornamo-nos semelhantes a Ele. Mediante o poder transformador do Espírito de Cristo, somos transmudados em coração e vida. Suas palavras são gravadas nas tábuas da alma, e somos Suas testemunhas, representando-O na vida diária” (Este Dia com Deus, p. 96).

“Quando buscamos verdadeiramente fazer a vontade de Deus, o Espírito Santo toma os preceitos de Sua Palavra e torna-os os princípios da vida, escrevendo-os nas tábuas da alma. E são só os que seguem a luz que já lhes foi dada que podem esperar receber maior iluminação do Espírito. Isto está claramente expresso nas palavras de Cristo: ‘Se alguém quiser fazer a vontade dEle, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se Eu falo de Mim mesmo’” (Joao 7:17) (Testemunhos para a Igreja, vol. 5, p. 705).

“Todos os que se aproximam da Bíblia com espírito dócil e devoto, para estudar suas expressões como a Palavra de Deus, receberão iluminação divina. Ha muitas coisas aparentemente difíceis ou obscuras que Deus tornará claras e simples aos que assim buscarem compreendê-las [...] Mas o nosso êxito em encontrá-lo não depende tanto de nossa capacidade intelectual como de nossa humildade de coração, e da fé que se apropria da ajuda divina” (Testemunhos para a Igreja, vol. 5, p. 704).

Podemos perceber que todo o propósito do plano da salvação é fazer com que a raça humana volte à perfeição da criação original, na qual a lei de Deus fora consagrada no templo do coração. O Santuário terrestre era o modelo visível do caminho de volta à condição do coração humano antes do pecado. Davi disse: “O teu caminho, ó Deus, está no santuário” (Salmos 77:13).   Para estudo adicional, vamos dar uma segunda olhada em Jeremias 17:1: "O pecado de Judá está escrito com um ponteiro de ferro, com ponta de diamante, gravado na tábua do seu coração e nas pontas dos vossos altares”.

O Altar de bronze no Pátio era a primeira peça visível do mobiliário do Santuário. Ali os pecados eram confessados e o sangue do animal morto era colocado sobre os quatro chifres do altar. Depois esse sangue era levado para o Lugar Santo e colocado sobre os quatro chifres do Altar de ouro, diante do véu interior e então aspergido sobre o Véu, onde permaneceria até o Dia da Expiação. Esse ritual provia perdão ao pecador arrependido e fazia expiação do registro do pecado, ao final do ano.

Porém esses rituais anuais só ofereceram salvação para povo até a primeira vinda de Jesus como o verdadeiro Cordeiro de Deus que derramou Seu sangue pelos pecados do mundo. Quando ascendeu de volta ao Céu, Jesus entrou no verdadeiro tabernáculo não feito por homem e onde a salvação eterna seria garantida para todos os que entrassem naquele Santuário pela fé nEle (em Jesus) e recebessem os benefícios da promessa da nova aliança: “’Sacrifícios, ofertas, holocaustos e ofertas pelo pecado não quiseste, nem deles te agradaste’ [...] num segundo momento acrescentou: ‘aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade.’ Ele remove o primeiro para estabelecer o segundo. Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas. Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, para exercer o serviço sagrado e oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem remover pecados. Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à direita de Deus, aguardando, daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés. Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre os que estão sendo santificados. E disto nos dá testemunho também o Espírito Santo. Porque, após ter dito: ‘Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor: Imprimirei as minhas leis no coração deles e as inscreverei sobre a sua mente’, acrescenta: ‘Também dos seus pecados e das suas iniquidades jamais me lembrarei’” (Hebreus 10:8-17).

Com esses textos, Deus nos diz que é Seu propósito remover completamente o pecado de nosso coração e escrever novamente a lei em nossa mente, erradicando por completo o pecado daqueles que colaborarem com Ele nos serviços do Santuário celestial, que Ele está realizando agora.  Porém observem com atenção a ordem divina de que precisamos colaborar com Ele para recebermos o benefício da obra de purificação de Jesus no Santuário celestial.

O Altar de Bronze no Pátio do Santuário terrestre tinha quatro chifres, um em cada canto do altar. Esses chifres não eram fabricados em separado e depois colocados sobre o altar; eles eram do mesmo material e formavam uma peça única com o Altar. Os chifres na Bíblia representavam força e status e o impulso do coração para conquistar ou vencer qualquer ameaça percebida. Em nossa natureza decaída, esse desejo interior de conquistar, ou de nos proteger se deve muito aos pecados que praticamos.

O bronze do Altar que ficava no Pátio não era tão refinado como o ouro do mobiliário nos dois compartimentos internos do Santuário. O cordeiro que queimava continuamente sobre o Altar de Bronze no Pátio assegurava ao pecador o perdão de seus pecados, porém havia ainda uma purificação maior que seria realizada por Jesus, nosso Sumo Sacerdote no Santíssimo do Santuário celestial, que resultaria no ouro do caráter que precisamos ter para podermos ser o “produto finalizado” da obra de Jesus em nosso favor  no final dos tempos. Lembremos que o objetivo final do ministério celestial de Cristo é produzir um povo livre de qualquer impureza de caráter, sem nada que venha prejudicar seu relacionamento íntimo e pleno com Ele, que lhe permitirá ouvir Sua voz mansa e suave a fim de atender ao Seu chamado em perfeita e amorosa obediência.

“Pode ter o amor de Deus a arder no altar de seu coração [...] comungar com Deus” (Testemunhos para a Igreja, vol. 2, p. 296).

“Não é ter fé pretender o favor do Céu, sem cumprir as condições sob as quais é concedida a misericórdia; é presunção, porque a fé genuína baseia-se nas promessas e providências das Escrituras. Ninguém se engane com a crença de que pode tornar-se santo enquanto voluntariamente transgride um dos mandamentos de Deus. O cometer o pecado conhecido faz silenciar a voz testemunhadora do Espírito e separa a alma de Deus” (O Grande Conflito, p. 472).

Não podemos ter comunhão com Deus se estivermos em oposição à Sua vontade. Não podemos ter comunhão com Ele e ouvirmos Seu Espírito Santo falando conosco caso tenhamos pecados acariciados.  Não podemos comungar com Deus caso amarmos mais a nós mesmos do que aos outros. Um coração purificado significa um relacionamento puro e perfeito entre nós e Jesus. Quando esse for o nosso objetivo, Ele nos conduzirá em segurança até o final dos tempos.

Isso nos leva de volta ao assunto dos 144 mil. A Bíblia diz que eles são o produto finalizado – o remanescente – de todo o povo de Deus que já viveu neste mundo. Eles representam cada nação, família, língua e povo, pois são compostos por aqueles que são vitoriosos sobre os pecados acumulados de toda a raça humana desde o princípio dos tempos.

Em Apocalipse 7:4, 5, os 144 mil são retratados como sendo 12 mil de cada uma das doze tribos de Israel. Esses números simbolizam todos aqueles que participam, com Jesus na batalha contra Satanás e seus seguidores no final dos tempos, e permanecem firmes com Jesus durante o grande tempo de angústia.

“E os dez chifres que viste são dez reis, que ainda não receberam o reino, mas receberão poder como reis por uma hora, juntamente com a besta. Estes têm um mesmo intento, e entregarão o seu poder e autoridade à besta. Estes combaterão contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão os que estão com ele, chamados, e eleitos, e fiéis” (Apocalipse 17:12-14).

Os 144 mil também são retratados como estando com Jesus no Monte Sião: “E olhei, e eis que estava o Cordeiro sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil, que em suas testas tinham escrito o nome de seu Pai. [...] E cantavam um como cântico novo diante do trono, e diante dos quatro animais e dos anciãos; e ninguém podia aprender aquele cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados da terra. Estes são os que não estão contaminados com mulheres; porque são virgens. Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vá. Estes são os que dentre os homens foram comprados como primícias para Deus e para o Cordeiro. E na sua boca não se achou engano; porque são irrepreensíveis diante do trono de Deus” (Apocalipse 14:1-5).

Alguns acreditam que os 144 mil representam os salvos de todas as eras. Contudo, esse texto os identifica especificamente como “primícias” de Deus e do Cordeiro. Nos rituais do Antigo Testamento, os primeiros frutos da colheita eram dedicados ao Senhor: “E a festa da sega dos primeiros frutos do teu trabalho, que houveres semeado no campo, e a festa da colheita, à saída do ano, quando tiveres colhido do campo o teu trabalho. [...] As primícias dos primeiros frutos da tua terra trarás à casa do Senhor teu Deus” (Êxodo 23:16, 19).

A nação de Israel era considerada por Deus como as primícias de todas as nações da Terra: “Assim diz o Senhor: Lembro-me de ti, da piedade da tua mocidade, e do amor do teu noivado, quando me seguias no deserto, numa terra que não se semeava. Então Israel era santidade para o Senhor, e as primícias da sua novidade” (Jeremias 2:2, 3).

Paulo considerava a si mesmo e a sua geração como as primícias da Igreja Cristã, por terem recebido o derramamento do Espírito Santo no Pentecostes: “Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo. Porque em esperança fomos salvos” (Romanos 8:22-24).

Tiago considera aqueles que acreditam na verdade de Deus e O seguem como um tipo de primícias de todos os seres criados: “Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas” (Tiago 1:18).

E em primeiro lugar e mais importante de todos, Cristo representa as primícias de todos aqueles que serão salvos: “Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo. Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na sua vinda. Depois virá o fim, quando tiver entregado o reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo o império, e toda a potestade e força. Porque convém que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés. Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte. ‘Porque todas as coisas sujeitou debaixo de seus pés’ [Salmos 8:6]” (1Coríntios 15:22-27).

Desde que nossos primeiros pais se renderam às artimanhas do inimigo, toda a criação aguarda ansiosamente o fim do grande conflito entre o bem e o mal. Mas isso não acontecerá até que Jesus, as primícias, comprove pela vida de Seus seguidores que Ele consegue reproduzir neles Seu próprio caráter perfeito.

“Cristo é chamado o segundo Adão. Em pureza e santidade, ligado com Deus e por Ele amado, começou onde começou o primeiro Adão. Voluntariamente passou pelo terreno em que Adão caiu, e redimiu a falta de Adão” (Minha Consagração Hoje, p. 303).

“Quando Cristo inclinou a cabeça e morreu, trouxe consigo ao chão as colunas do reino de Satanás. Venceu Satanás na mesma natureza sobre a qual, no Éden, Satanás obtivera a vitória. O inimigo foi vencido por Cristo em Sua natureza humana. O poder da Divindade do Salvador estava oculto. Ele venceu na natureza humana, confiando em Deus, que Lhe supria o poder” (Comentário Bíblico Adventista, vol. 5, p. 1236).

Agora que Jesus alcançou a vitória em nossa natureza humana, Ele é capaz de transmitir Sua vitória ao coração de cada pessoa que estiver disposta a cooperar com Ele e permitir que Ele a purifique de toda mancha do pecado.

“Assim como foi glorificado no dia de Pentecostes, Cristo será novamente glorificado no encerramento da obra do evangelho, quando Ele preparar um povo para suportar a prova final na última batalha do grande conflito” (Comentário Bíblico Adventista, vol. 7, p. 1100).

“Dois grandes poderes opostos são revelados na última batalha. De um lado está o Cristo dos céus e da Terra. Todos os que se encontram do Seu lado têm o Seu selo. Eles são obedientes a Suas ordens. Do outro lado está o príncipe das trevas, com os que escolheram a apostasia e a rebelião” (Comentário Bíblico Adventista, vol. 7, pp. 1098, 1099).

Muitas pessoas acham que a chuva serôdia irá curar seu gênio forte e seus defeitos de caráter.  Porém observem cuidadosamente que no tempo da colheita há apenas dois grupos: o trigo e o joio. A chuva serôdia não transformará o joio em trigo, ela só amadurecerá o grão e selará para sempre aqueles que permitiram que o Espírito Santo dirigisse sua vida e lhe purificasse o caráter.

“Caindo perto do fim da estação, a chuva serôdia amadurece o grão, e o prepara para a foice [...] então para amadurecer a colheita, assim é dado o Espírito Santo para levar avante, de um estágio para outro, o processo de crescimento espiritual. O amadurecimento do grão representa a terminação do trabalho da graça de Deus na alma. Pelo poder do Espírito Santo deve a imagem moral de Deus ser aperfeiçoada no caráter. Devemos ser completamente transformados à semelhança de Cristo” (Eventos Finais, p. 183).

“O selo do Deus vivo só será colocado sobre os que possuem semelhança de caráter com Cristo. Como a cera recebe a impressão do sinete, assim deve a alma receber a impressão do Espírito de Deus e reter a imagem de Cristo” (Comentário Bíblico Adventista, vol. 7, p. 1083).

Tudo o que temos estudado até agora neste artigo trata-se de uma descrição sobre a preparação necessária para estarmos entre os 144 mil. Eles são descritos como sendo irrepreensíveis e são as primícias de todos os seguidores de Deus ao longo de toda a história do mundo. Eles estão agora preparados para tomar o lugar dos anjos que caíram, pois sua mente e caráter foram totalmente restaurados à perfeição original de Adão e Eva antes de pecarem.

Neste ponto, quero dar ainda maiores detalhes sobre a descrição dos 144 mil como sendo os representantes das doze tribos de Israel.

Quando Deus chamou Abraão, foi-lhe dito que seus descendentes seriam tão numerosos quanto as estrelas [Gênesis 15:5]. Mais tarde, foi-lhe dito que seria o pai de muitas nações [Gênesis 17:3-6]. Séculos depois, Paulo disse: “[...] Nem todos os que são de Israel são israelitas; Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos [...] Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência” (Romanos 9:6-8). “Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gálatas 3:26-29).

De alguma maneira, pela providência de Deus, os doze filhos de Jacó ou Israel, possuíam todas as características da humanidade inteira. Esse fenômeno tem sido observado por estudiosos da Bíblia e é apoiado pelas escrituras: “Quando o Altíssimo distribuía as heranças às nações, quando dividia os filhos de Adão uns dos outros, estabeleceu os termos dos povos, conforme o número dos filhos de Israel. Porque a porção do Senhor é o seu povo; Jacó é a parte da sua herança” (Deuteronômio 32:8, 9).

“Deus escolheu os doze filhos de Jacó porque suas disposições hereditárias e o desenvolvimento de sua personalidade juntos formam um microcosmo de toda a humanidade. Eles representam todo tipo de pessoa que já viveu” (Leslie Hardinge, With Jesus in His Sanctuary, p. 298).

Portanto, os 144 mil, que são o “produto final” da obra de Jesus no Santuário celestial no ápice da história, representam o molho que era movido, ou as primícias da colheita de toda a humanidade, o Israel espiritual prometido a Abraão como sua semente, pois carregaram a tocha da verdade até a linha de chegada, foram vitoriosos sobre a besta e sua imagem, receberam o selo de Deus em sua fronte e foram fiéis a Jesus durante o grande tempo de angústia. Agora eles têm o privilégio, que nenhum outro gruo teve, de estar com Jesus no Monte Sião e de cantar o cântico de Moisés e do Cordeiro, porque é o canto de sua experiência: “E vi outro grande e admirável sinal no céu: sete anjos, que tinham as sete últimas pragas; porque nelas é consumada a ira de Deus.
E vi um como mar de vidro misturado com fogo; e também os que saíram vitoriosos da besta, e da sua imagem, e do seu sinal, e do número do seu nome, que estavam junto ao mar de vidro, e tinham as harpas de Deus. E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro” (Apocalipse 15:1-3).

“No mar cristalino diante do trono [...] está reunida a multidão dos que ‘saíram vitoriosos da besta, e da sua imagem, e do seu sinal, e do número do seu nome’ (Apocalipse 15:2). Com o Cordeiro, sobre o Monte Sião, ‘tendo harpas de Deus’, estão os cento e quarenta e quatro mil que foram remidos dentre os homens [...] E cantavam ‘um cântico novo’ diante do trono — cântico que ninguém podia aprender senão os cento e quarenta e quatro mil. É o hino de Moisés e do Cordeiro — hino de livramento. Ninguém, a não ser os cento e quarenta e quatro mil, pode aprender aquele canto, pois é o de sua experiência — e nunca ninguém teve experiência semelhante. ‘Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vai’ ‘Estes, tendo sido trasladados da Terra, dentre os vivos, são tidos como as primícias de Deus e do Cordeiro’” (O Grande Conflito, p. 648, 649).

Desde que a mensagem da Segunda Vinda de Jesus foi dada pela primeira vez em 1844, o povo de Deus em cada geração subsequente tem aguardado com expectativa a Sua vinda para os seus dias. Será que Jesus está querendo deixar passar um período de tempo ainda maior?  Ou seria a condição de Seu povo a causa da demora? Ellen White responde a essa pergunta:

“O povo, porém, ainda não estava preparado para encontrar-se com o Senhor. Havia ainda uma obra de preparo a ser por eles cumprida. Ser-lhes-ia proporcionada luz, dirigindo-lhes a mente ao templo de Deus, no Céu; e, ao seguirem eles, pela fé, ao Sumo Sacerdote em Seu ministério ali, novos deveres seriam revelados. Outra mensagem de advertência e instrução deveria dar-se à igreja.

“Diz o profeta: ‘Quem suportará o dia da Sua vinda? E quem subsistirá quando Ele aparecer? Porque Ele será como o fogo dos ourives e como o sabão dos lavandeiros. E assentar-Se-á, afinando e purificando a prata; e purificará os filhos de Levi, e os afinará como ouro e como prata: então ao Senhor trarão ofertas em justiça”’ (Malaquias 3:2, 3). Os que estiverem vivendo sobre a Terra quando a intercessão de Cristo cessar no Santuário celestial, deverão, sem mediador, estar em pé na presença do Deus santo. Suas vestes devem estar imaculadas, o caráter liberto de pecado, pelo sangue da aspersão. Mediante a graça de Deus e seu próprio esforço diligente, devem eles ser vencedores na batalha contra o mal. Enquanto o juízo investigativo prosseguir no Céu, enquanto os pecados dos crentes arrependidos estão sendo removidos do Santuário, deve haver uma obra especial de purificação ou de afastamento de pecado, entre o povo de Deus na Terra. Esta obra é mais claramente apresentada nas mensagens do capítulo 14 de Apocalipse.

“Quando essa obra se houver realizado, os seguidores de Cristo estarão prontos para o Seu aparecimento [...] Então a igreja que nosso Senhor deve receber para Si, a Sua vinda, será ‘igreja gloriosa, sem macula, nem ruga, nem coisa semelhante’” (Efésios 5:27) (O Grande Conflito, p. 424, 425).

Logo, a demora é consequência do estado de despreparo do povo de Deus. Precisamos estar dispostos a cooperar com a obra de purificação que Jesus está realizando em nosso favor através de Seu ministério no Lugar Santíssimo do Santuário celestial. Precisamos estar dispostos a participar com Ele nessa obra de purificação. Precisamos andar com Ele, ouvir a Sua voz e lhe obedecer, à medida em que Ele vai nos revelando as coisas que estão registradas nos livros do Céu. Precisamos lutar com Deus como fez Jacó, para sermos vencedores e filhos espirituais de Israel.

“Se Jacó não se houvesse arrependido previamente do pecado [...] Deus não lhe teria ouvido a oração, preservando-lhe misericordiosamente a vida. Semelhantemente, no tempo de angústia, se o povo de Deus tivesse pecados não confessados que surgissem diante deles [...] Mas, ao mesmo tempo em que têm uma profunda intuição de sua indignidade, não possuem falta oculta para revelar. Seus pecados foram examinados e extinguidos no juízo; não os podem trazer à lembrança.

“Satanás leva muitos a crer que Deus não toma em consideração sua infidelidade nas pequenas coisas da vida; mas o Senhor mostra, em seu trato com Jacó, que de maneira nenhuma sancionará ou tolerará o mal. Todos os que se esforçam por desculpar ou esconder seus pecados, permitindo que permaneçam nos livros do Céu, sem serem confessados e perdoados, serão vencidos por Satanás [...] Os que se retardam no preparo para o dia de Deus, não o poderão obter no tempo de angústia, ou em qualquer ocasião subsequente. O caso de todos estes é sem esperanças” (O Grande Conflito, p. 620).

Qual é, então, nosso dever neste momento? Precisamos nos apressar enquanto Jesus ainda está ministrando no Santuário celestial para que nossa vocação e eleição sejam garantidas [2Pedro 1:10]. Precisamos nos livrar de todo peso e do pecado que tão firmemente se apega a nós [Hebreus 12:1], caso contrário, estaremos entre os servos preguiçosos que retardam a volta do senhor até que seja tarde demais:

“Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor. Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa. Por isso, estai vós apercebidos também; porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis” (Mateus 24:42-44).

Alguns de vocês podem estar se perguntando: “Mas o que preciso fazer para estar pronto para a volta de Jesus?”. O pecado é um conceito tão nebuloso. Estamos acostumados a ele, crescemos com ele e ele faz parte da urdidura e da trama da sociedade e da vida de todo ser humano, desde que Adão e Eva pecaram no Jardim do Éden. Somente Jesus, o imaculado Filho de Deus, veio a este mundo sem a tendência ao pecado escrita nas tábuas do Seu coração. Em Salmos 40:6-8, Ele profetizou sobre Si mesmo no Seu nascimento: “Sacrifício e oferta não quiseste; os meus ouvidos abriste; holocausto e expiação pelo pecado não reclamaste. Então disse: Eis aqui venho; no rolo do livro de mim está escrito. Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está dentro do meu coração”.

 

Quando Deus revelou a Maria que ela havia sido escolhida para ser a mãe do Messias há muito esperado, o anjo lhe disse: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lucas 1:35).

Muitos acreditam que quando Jesus veio a este mundo como ser humano, Ele assumiu não apenas a natureza humana, mas também as propensões herdadas para o pecado que todos nós recebemos ao nascer, mas que Ele resistiu com perfeição a essas inclinações toda sua vida e, por isso, não pecou. No entanto, as Escrituras nos dizem claramente que Ele era santo, inculpável e sem mácula desde a Sua concepção; portanto, Ele é um Sumo Sacerdote que pode nos salvar por completo:

“Portanto, por um lado, se revoga a ordenança anterior, por causa de sua fraqueza e inutilidade, pois a lei nunca aperfeiçoou coisa alguma; e, por outro lado, se introduz esperança superior, pela qual nos chegamos a Deus.[...] Jesus, no entanto, porque continua para sempre, tem o seu sacerdócio imutável. Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se aproximam de Deus, vivendo sempre para interceder por eles. Porque nos convinha um Sumo Sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e exaltado acima dos céus” (Hebreus 7:18, 19, 24-26).

Eis aqui a nossa abençoada esperança! Jesus, o Santo de Deus, é capaz de nos trazer de volta àquele mesmo estado de pureza e santidade, se cooperarmos plenamente com Seu ministério como Sumo Sacerdote em Sua obra final no Lugar Santíssimo do Santuário celestial. Qual é, então, a chave para a nossa restauração? Ela se acha na palavra “santidade”, pois é para essa condição que precisamos retornar em nossa jornada de volta ao Éden, antes da queda de nossos primeiros pais. Para a mente natural humana isso é incompreensível, porém para aqueles que são iluminados pelo Espírito e pela Palavra, as verdades da redenção se tornam mais claras, à medida que vemos o dia da volta de Cristo se aproximar.

“Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito. O caminho dos ímpios é como a escuridão, eles não sabem em que tropeçam” (Provérbios 4:18, 19).

Creio que a palavra-chave que desvenda o mistério da perfeição é “santidade”. Como já observamos, o anjo Gabriel falou a Maria que a criança que nasceria dela seria santa desde o nascimento. Até os demônios que tiveram contato com Jesus foram forçados a admitir que Jesus era o Santo Filho de Deus: “E estava na sinagoga deles um homem com um espírito imundo, o qual exclamou, dizendo:  ‘Ah, que temos contigo Jesus Nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus!’” (Marcos 1:23, 24).

Porém esse estado de santidade não se reserva apenas para Jesus, pois por meio de um relacionamento íntimo com Ele, o ser humano precisa tornar-se santo a fim de conseguir estar de pé na presença de um Deus santo: “Procurem viver em paz com todos e busquem a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor. Cuidem para que ninguém fique afastado da graça de Deus, e que nenhuma raiz de amargura, brotando, cause perturbação, e, por meio dela, muitos sejam contaminados” (Hebreus 12:14, 15).

Para que possamos entender o tema da santidade, precisamos de uma definição clara e simples do termo santidade, e a podemos encontrar em Ellen White:

Santidade é harmonia com Deus” (Testemunhos para a Igreja 5, p. 472).

“Se o ser humano deve tornar-se imortal, sua mente necessita estar em harmonia com a mente divina” (Testemunho sobre Conduta Sexual, Adultério e Divórcio, p. 116).

Isto significa que todo o plano da salvação se centraliza em um único objetivo: trazer os seres humanos caídos de volta à harmonia e unidade com a mente de Deus em tudo. A mente carnal está em inimizade com Deus e em harmonia com o diabo. Portanto, para restaurar nossa mente ao estado de perfeição com o qual fomos criados, precisamos ter um relacionamento pessoal e constante com Deus através do Espírito Santo e do ministério de Jesus por nós no Santuário celestial; o que pressupõe foco e determinação intencional de nos conectarmos com Jesus todos os dias e mantermos essa conexão nas diferentes experiências ao longo do dia. Precisamos iniciar o dia com Deus, permanecer em conexão consciente com Ele durante o dia inteiro, e terminar o dia com Deus, antes de irmos dormir. Mesmo à noite, se acordarmos, precisamos estar em comunhão com Deus, em nosso coração.

Jesus é nosso exemplo desse modo de vida. Ele veio a este mundo ligado a Seu Pai celestial e em perfeita harmonia com Ele e Sua lei, e Ele manteve essa comunicação constante durante toda Sua vida na Terra. Como é possível termos esse mesmo relacionamento com Deus, quando entramos neste mundo já contaminados pelo pecado? Como disse Davi: “Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Salmos 51:5).

Ellen White revela informações importantes sobre como as tendências pecaminosas e os traços de caráter são transmitidos de pais para filhos:

“Mesmo antes do nascimento da criança deve começar o preparo que a habilitará a combater com êxito na luta contra o mal.

“A responsabilidade repousa especialmente sobre a mãe. Ela, de cujo sangue a criança se nutre e se forma fisicamente, comunica-lhe também influências mentais e espirituais que tendem a formar-lhe a mente e o caráter [...] O efeito das influências pré-natais é olhado por muitos pais como coisa de somenos importância; o Céu, porém, não o considera assim [...] A felicidade da criança será afetada pelos hábitos da mãe [...] Se antes do nascimento da criança, ela é condescendente consigo mesma, egoísta, impaciente e exigente, esses traços se refletirão na disposição da criança. Assim muitas crianças têm recebido como herança quase invencíveis tendências para o mal [...] Mas se a mãe se firma, sem reservas, nos retos princípios, se é temperante e abnegada, bondosa, amável e esquecida de si mesma, ela pode transmitir ao bebê os mesmos traços de caráter” (A Ciência do Bom Viver, p. 371, 372, 373).

“É inevitável que os filhos sofram as consequências das más ações dos pais, mas não são castigados pela culpa deles, a não ser que participem de seus pecados. Dá-se, entretanto, em geral o caso de os filhos andarem nas pegadas de seus pais. Por herança e exemplo os filhos se tornam participantes do pecado do pai. Más tendências, apetites pervertidos e moral vil, assim como enfermidades físicas e degeneração, são transmitidos como um legado de pai a filho, até a terceira e quarta geração. Esta terrível verdade deveria ter uma força solene para restringir os homens de seguirem uma conduta de pecado” (Patriarcas e Profetas, p. 215).

“Os hábitos formados na juventude, conquanto possam na vida posterior ser um pouco modificados, na essência são raramente mudados. Sua vida inteira tem sido moldada pelo legado de caráter que lhe foi transmitido no nascimento. O temperamento perverso de seu pai é visto nos filhos dele” (Testemunhos para a Igreja, vol. 4, p. 449).

Estudos científicos recentes também apoiam essa lei da genética:

“Há uma ‘nova ciência’ que chamará a atenção do mundo cristão, especialmente dos Adventistas do Sétimo ´Dia. A pesquisa epigenética existe há 15 anos e revelou que a expressão do segundo mandamento de Êxodo 20:5 que diz ‘[...] “Eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração [...]’ é um fato da ciência. Brian Diaz, com sua pesquisa em epigenética no Laboratório da Universidade Emory, em Atlanta, descobriu que as coisas que experienciamos, as escolhas que fazemos, o que pensamos e como pensamos são misteriosamente transmitidas aos nossos filhos pelo DNA [...]. Ao lermos o que ele e outros escreveram, descobrimos que o caráter das crianças não é moldado apenas pelo que elas veem seus pais e outros fazendo, mas também pelo que lhes foi transmitido através da epigenética parental [...].

“Mas a boa nova é que não estamos presos à nossa herança epigenética. Se amarmos a Deus o suficiente para confiar nEle e lhe obedecer, podemos reivindicar as promessas bíblicas que nos dizem que ‘Deus pode nos santificar plenamente’ (1Tessalonissenses 5:23, 24), e que ‘Ele é poderoso para apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória’ (Judas 24). Verdadeiramente, Deus é grande e misericordioso conosco” (Wallace Frost, pastor da igreja de Burnt Mills, em Silver Spring, MD, set. 2006, p. 13).

Acrescentem a isso o impacto que o exemplo dos pais e o tratamento dado por eles aos filhos e a outros membros da família tem sobre as crianças, à medida que crescem. No mundo atual, a mídia pode ter impacto maior sobre a mente, o caráter e o desenvolvimento das crianças e jovens que qualquer outra influência no meio ambiente. No entanto, o dia de Deus se apressa e as pessoas desta geração estão prestes a ver a culminação da história e enfrentar seu Criador para responderem por sua própria vida e pela influência que tiveram na vida de seus familiares e na de outros.

Prestem atenção ao profeta Sofonias, ao ele observar os nossos dias e falar às pessoas que estarão vivas para verem a vinda de Jesus:

“O grande dia do Senhor está perto, sim está perto e se apressa muito; amarga é a voz do dia do Senhor; clamará ali o poderoso.  Aquele dia será um dia de indignação, dia de tribulação e angústia, dia de alvoroço e de assolação, dia de trevas e de escuridão, dia de nuvens e densas trevas, dia de trombeta e de alarido contra as cidades fortificadas e contra as torres altas. E angustiarei os homens, que andarão como cegos, porque pecaram contra o Senhor [...] Nem a sua prata nem o seu ouro os poderá livrar no dia da indignação do Senhor, mas pelo fogo do seu zelo toda esta terra será consumida, porque certamente fará de todos os moradores da terra uma destruição total e apressada.  Congregai-vos, sim, congregai-vos, ó nação não desejável; antes que o decreto produza o seu efeito, e o dia passe com a pragana; antes que venha sobre vós o furor da ira do Senhor, antes que venha sobre vós o dia da ira do Senhor.  Buscai ao Senhor, vós todos os mansos da terra, que tendes posto por obra o seu juízo; buscai a justiça, buscai a mansidão; pode ser que sejais escondidos no dia da ira do Senhor” (Sofonias 1:14—2:3).

Há um capítulo no volume 5 de Testemunhos para a Igreja que seria bom que todos lessem, porque há verdades que se aplicam ao nosso tempo na história. Eis alguns excertos:

“Com infalível precisão, o Ser infinito ainda mantém, por assim dizer, uma conta com todas as nações. Enquanto Sua misericórdia se oferece com convites ao arrependimento, essa conta permanecerá aberta; quando, porém, os algarismos atingem um certo total que Deus fixou, começa o ministério de Sua ira. Encerra-se a conta. Cessa a paciência divina. Não mais há intercessão de misericórdia [...]

“O dia da vingança de Deus está precisamente diante de nós. O selo de Deus será colocado somente na testa daqueles que suspiram e clamam por causa das abominações cometidas na Terra. Aqueles que se ligam ao mundo por laços de simpatia, estão comendo e bebendo com os ébrios e certamente serão destruídos com os que praticam a iniquidade [...]

“Nenhum de nós jamais receberá o selo de Deus, enquanto o caráter tiver uma nódoa ou mácula sequer. Cumpre-nos remediar os defeitos de caráter, purificar de toda a contaminação o templo da alma. Então a chuva serôdia cairá sobre nós, como caiu a temporã sobre os discípulos no dia de Pentecostes [...]

“Que estão fazendo, irmãos, na grande obra de preparação? Os que se estão unindo com o mundo, estão-se amoldando ao modelo mundano, e preparando-se para o sinal da besta. Os que desconfiam do eu, que se humilham diante de Deus, e purificam a alma pela obediência à verdade, estão recebendo o molde divino, e preparando-se para receber na fronte o selo de Deus. Quando sair o decreto, e o selo for aplicado, seu caráter permanecerá puro e sem mácula para toda a eternidade.

“Agora é o tempo de preparar-nos. O selo de Deus jamais será colocado à testa de um homem ou mulher impuros. Jamais será colocado à testa de um homem ou mulher cobiçosos ou amantes do mundo. Jamais será colocado à testa de homens ou mulheres de língua falsa ou coração enganoso. Todos os que recebem o selo devem ser imaculados diante de Deus — candidatos para o Céu” (Testemunhos para a Igreja, vol. 5, pp. 208, 212, 214, 216).

Mas como poderemos chegar ao ponto, onde nosso coração e mente estejam purificados de toda impureza? Primeiro, precisamos crer de todo nosso coração que Deus é um revelador de segredos e que Ele pode nos revelar os níveis mais profundos dos pensamentos e intenções de nosso coração. Precisamos passar tempo com Ele em Sua palavra e permitir que o Espírito Santo nos fale sobre os mistérios de Sua vontade para conosco. Precisamos examinar o nosso coração como com uma vela acesa para vermos se há alguma coisa que esteja em desarmonia com a lei de Deus, como vivida na perfeita vida de Jesus. Lembrem-se de que isso não é algo que possamos fazer por nós mesmos, mas é obra de Deus pelo poder do Espírito Santo que intercede por nós diante do trono de Deus “com gemidos inexprimíveis” (Romanos 8:26). Todo o Céu está esperando por nós, para cooperarmos com os três membros da Trindade, que nos ajudarão na obra de purificação do templo de nossa alma.

“Enquanto Cristo está purificando o Santuário, devem os adoradores na Terra examinar cuidadosamente a própria vida, e comparar o caráter com a norma da justiça” (Evangelismo, p. 224).

Ao passarmos nossa vida em revista, o que estamos procurando? Muitos de nós que estamos vivenciando essa experiência com Jesus à medida que Ele examina nosso coração, observamos que Ele está nos revelando aonde se iniciaram nossos padrões errados de pensamento e sentimento, se estes começaram na infância, através de nossos pais, irmãos, ou outras pessoas em nosso primeiro ambiente de convívio, pois é justamente na infância que as raízes e as origens de nossos processos mentais começam. Visto que não podemos mudar as coisas do passado, cabe a nós mudarmos a nossa resposta ou reação a elas, a fim de que possamos estar em harmonia com os pensamentos e sentimentos que Jesus coloca em nosso coração.

Por exemplo, caso tenha havido algum tipo de abuso em nossa criação, a resposta natural pode ser a autoproteção e a guarda de sentimentos de rancor contra qualquer pessoa que nos faça lembrar do que vivenciamos na infância. Caso tenha havido algum tipo de negligência, favoritismo ou modelo de comportamento errado, essas coisas podem nos acompanhar durante a vida toda. Jesus deseja nos libertar de tudo o que nos tenha machucado durante nossa vida inteira, bem como nos libertar de danos herdados, que nos foram passados através de nossa linhagem familiar. Sem a ajuda de Deus, jamais poderemos nos libertar por completo das tendências herdadas e cultivadas para o mal.

“Sem o processo transformador que só pode advir através do divino poder, as propensões originais para o pecado permanecem no coração com toda a sua força, para forjar novas cadeias, para impor uma escravidão que nunca pode ser desfeita pela capacidade humana” (Evangelismo, p. 192).

Para nos revelar esses defeitos ocultos de caráter, ou seja, nossos “pensamentos e sentimentos” [Testemunhos para a Igreja, vol. 5, p. 310], Deus nos permite passar por provações que trazem à tona pensamentos e sentimentos não santificados em nosso comportamento, para assim nos indicar as áreas aonde precisamos da graça transformadora de Jesus. Essas experiências nos dão a oportunidade de examinarmos o coração diante de Deus e nos arrependermos de todo pensamento, sentimento e comportamento errado, e implorar pela cura profunda de Jesus, que é o único que pode nos transformar à Sua imagem e semelhança. Aqueles que não passarem por essa experiência de purificação e cura não estarão prontos para encontrar Jesus em paz, quando Ele voltar, porque Ele será como o fogo do ourives e, ao aparecer em glória, Sua própria presença destruirá o pecador junto com seus pecados.

“Pelo poder do Espírito Santo deve a imagem moral de Deus ser aperfeiçoada no caráter. Devemos ser completamente transformados à semelhança de Cristo” (Eventos Finais, p. 183).

“Todo aquele que é salvo precisa ter essa experiência. No dia do juízo, não será defendido o procedimento do homem que reteve a fraqueza e imperfeição da humanidade. Para ele não haverá lugar no Céu. Ele não pôde desfrutar a perfeição dos santos na luz. Quem não tem suficiente fé em Cristo para crer que Ele pode livrá-lo de pecar, não tem a fé que lhe dará entrada no reino de Deus” (Mensagens Escolhidas, V. 3, p. 360).

Conseguem vocês perceber por que tem levado seis mil anos para Deus ter um remanescente aperfeiçoado em Seu povo? O problema do pecado é muito mais profundo e penetrante do que aparece na superfície, e como um câncer, entrou no profundo da alma da humanidade inteira. Precisamos aprender que por detrás de cada pecado existe uma mentira do diabo, na qual acreditamos e acabamos colocando em prática a ação pecaminosa. Satanás constitui um demônio para cada criança a partir do seu nascimento, cujo dever é perpetuar os pecados dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração. Pela longa prática, ele conhece as fraquezas e propensões de cada família. Felizmente, Jesus também constitui um anjo para cada criança com a missão de atrair a mente infantil às coisas celestiais. Há uma batalha invisível sendo travada em cada alma desde o nascimento até a morte. Quando da volta de Jesus, cada pessoa terá tomado sua decisão permanente para a vida eterna ou para a destruição eterna.

“As crianças que não experimentaram o poder purificador de Jesus são presa legítima do inimigo, e anjos maus têm fácil acesso a elas. Alguns pais são descuidosos, e permitem que seus filhos cresçam com poucas restrições apenas. Os pais têm uma grande obra a fazer quanto a corrigirem e ensinarem os filhos, levá-los a Deus, e reclamar Suas bênçãos sobre eles. Mediante esforços fiéis e incansáveis por parte dos pais, e a bênção e graça conferidas às crianças em resposta às orações dos pais, pode quebrar-se o poder dos anjos maus, derramando-se uma influência santificadora sobre as crianças. Serão assim repelidas as potestades das trevas” (Conselhos Professores, Pais e Estudantes, p. 118).

Chegamos agora à última geração da história terrestre. Comparativamente, poucas pessoas estão respondendo ao chamado de Deus para se prepararem para o fechamento da porta da graça. A mídia tem mais apelo às pessoas que os apelos do Espírito Santo. Para a maioria, os pecados dos pais sobre seus filhos atingiram um ponto sem retorno.

“Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, falando mentiras.  O seu veneno é semelhante ao veneno da serpente; são como a víbora surda, que tapa os ouvidos, para não ouvir a voz dos encantadores, o encantador sábio em encantamentos” (Salmos 58:3-5).

Demorou todos esses anos para que aprendêssemos a natureza virulenta do pecado. Porém agora é o momento de nos beneficiarmos plenamente do que Jesus fez por nós, não só na cruz, mas o que Ele é capaz de fazer e está fazendo por aqueles que cooperarem com Ele na erradicação do problema do pecado em si. No entanto, é necessário de nossa parte, que haja cooperação voluntária em cada passo do caminho de volta à pureza de coração e purificação da alma, a fim de que cada pensamento, palavra e ação estejam em completa harmonia com a mente de Cristo. É essa a condição que será alcançada pelos 144 mil na obra de encerramento de Cristo no Santuário celestial. Os últimos vestígios da rebelião e impureza terão sido removidos e os 144 mil estarão em completa harmonia com o Pai e o Filho em cada assunto. Então eles se regozijarão, tendo consciência de que seus pecados foram lavados no sangue do Cordeiro e que o maligno não mais tem poder sobre eles.

“Senhor, tu nos darás a paz, porque tu és o que fizeste em nós todas as nossas obras.
Ó Senhor Deus nosso, já outros senhores têm tido domínio sobre nós; porém, por ti só, nos lembramos de teu nome. Morrendo eles, não tornarão a viver; falecendo, não ressuscitarão; por isso os visitaste e destruíste, e apagaste toda a sua memória” (Isaías 26:12-14).

Como representantes de toda a raça humana, os 144 mil estarão de pé com Jesus no Monte Sião. Eles O seguiram fielmente através da obra de purificação no Lugar Santíssimo e tiveram seus pecados apagados tanto de sua vida como dos livros do Céu. Eles permaneceram firmes com Jesus na batalha final contra a besta e sua imagem e venceram. Viram a Terra devastada durante as sete últimas pragas e suportaram privações e ameaças de morte. Agora estão livres para estarem com Jesus para sempre, seguindo-o por onde quer que Ele vá, e adorando-o em Seu trono por toda a eternidade, para nunca mais se separarem de seu amado Senhor e Salvador.

Agora é o tempo, e nós somos o povo sendo chamado para sermos o molho movido, as primícias da Terra. Respondamos com entusiasmo e alegria ao chamado final de Deus para segui-Lo inteiramente pelos dias vindouros até vê-Lo voltando nas nuvens de glória.

E por fim: “Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória, Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém” (Judas 24, 25).

 

Carol Zarska, MAR, Escritora, em 27 Novembro 2019